sexta-feira, 23 de março de 2012

Necromancia e Invocação de Espíritos.

É evidente que, após a morte, as almas amam o corpo do qual saíram, particularmente aquelas que não tiveram um funeral descente ou deixaram o corpo por meio de uma morte violenta, vagando em torno de sua carcaça em espirito perturbado e aborrecido, como que atraídas por algo que tem com elas uma afinidade.

Conhecendo-se o meio pelo qual no passado estavam unidas aos corpos, elas podem facilmente ser invocadas e atraídas por vapores, licores e sabores que lhes são semelhantes, também o uso de certas luzes artificiais, canções, sons e coisas semelhantes, que movem a harmonia imaginativa e espiritual da alma; também as invocações sagradas e outras coisas que pertencem á religião não devem ser negligenciadas, por razão da parte da alma racional que está acima da natureza.

Pensa-se, contudo, que as invocações só podem ser feitas naqueles lugares onde essas espécies de almas têm maior ligação, ou por alguma afinidade, ou com o corpo, atraindo-as, ou por alguma afeição imprimida em sua vida, atraindo de fato a alma a certo lugares, ou ainda por alguma natureza infernal do lugar, sendo, portanto, apropriado para a punição ou purgação das almas.

Locais assim são mais bem conhecidos pela ocorrência de visões e incursões noturnas, e fantasmas desse tipo; alguns são conhecidos como locais de sepultamento e execução, e onde tenham ocorrido recentes matanças, ou onde as carcaças dos trucidados, ainda não expiadas nem enterradas, foram largadas alguns anos antes no solo. Pois a expiação e o exorcismo de qualquer lugar, bem como o sagrado sepultamento, sendo feitos ao corpo, com frequência impedem a alma de levantar e as afasta cada vez mais na direção dos locais de julgamento.

É daí que a necromancia recebe seu nome, pois opera em cima dos nomes dos corpos, e dá respostas por meio dos fantasmas e aparições dos mortos, e de espíritos subterrâneos, atraindo-os para as carcaças dos mortos, por meio de certos encantamentos e invocações infernais, e com sacrifícios mortais, e ímpias oblações.

As Escrituras Sagradas afirmam que uma certa mulher, uma bruxa, invocou a alma de Samuel; até mesmo as almas dos santos amam seus corpos e dão mais atenção ás súplicas nos locais em que são preservadas suas relíquias.

Há duas espécies de necromancia; a que é chamada de neciomancia, ou revivificação de carcaças, que não é feita sem sangue; e a ciomancia, que consiste em invocar apenas a sombra. Para concluir, ela realiza todas as suas operações por meio das carcaças dos mortos com violência, e de seus ossos e membros, e tudo o mais deles, pois há em tais coisas um poder espiritual que lhes é amigável.

Portanto, é fácil atrair o fluxo de espíritos ímpios, sendo a semelhança e propriedade muito familiar. E o necromante, fortalecido pela ajuda deles, pode fazer muito nas coisas humanas e terrestres, e incitar desejos ilícitos, provocar sonhos, doenças, ódio e paixões semelhantes, contando também com o poder das almas que, ainda envolvidas em um espirito perturbado e agitado, e vagando, podem fazer as mesmas coisas em os espíritos ímpios cometem.

Para aquele que desejar de fato restaurar as almas a seus corpos deve, antes, conhecer a verdadeira natureza da alma de onde veio, e até que grau de perfeição foi dotada, com qual inteligência é fortalecida, por quais meios foi difundida no corpo, por qual harmonia será com ele compactada, qual afinidade ela tem com Deus, com as inteligências, com os céus, elementos, e todas as outras coisas cuja imagem e semelhança são próximas.

Devemos acrescentar aqui que as vezes acontece aos homens que seu espirito vivificador é neles retraído, e eles parecem mortos e sem sentido, quando então sua natureza intelectual permanece unida ao corpo, e tem a mesma forma, também permanecendo no corpo, embora o poder de vivificar não se estenda a ela, na verdade, mas continue retraído na unicao com a natureza intelectual; entretanto, não deixa de existir; e embora se diga que um homem está morto, sendo a morte a falta de um espirito vivificante, não há de fato uma separação; e o corpo pode ser despertado de novo e viver.

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